domingo, 18 de novembro de 2012

MEU AVÔ ERA NEGRO

Hoje é o Dia Nacional do Combate ao Racismo. Meu avô era negro. Não que fosse assim um negão, talvez um mulatão ou um morenão. Mas o fato é que branco ele não era.
Consta que a família de minha avó tinha algumas posses e pelo fato de meu avô ser negro os pais dela não aprovaram o casamento. Assim sendo nada tiveram de herança da família. Meu avô ficou relojoeiro e minha avó doceira.
Não me lembro, nos muitos anos de convivência com eles de ter ouvido uma única reclamação de minha avó, muito pelo contrário, o que eu via era um casal extremamente feliz. E olhe que a vida deles não era fácil. Minha mãe era filha única, nasceu mais puxada à minha avó. Tampouco nunca ouvi dela uma reclamação que fosse sobre o meu avô. Tenho certeza que, em detrimento do que pensavam os pais de minha avó, a negritude dele não foi negativa na família, muito pelo contrário.
O tempo passou, cresci e fui para o mundo. Durante da caminhada Deus colocou no meu caminho inúmeros negros. Como não me lembrar do meu amigo negro Luiz Carlos, o Tuinha de quem eu morria de inveja por ter o cabelo Black Power e eu não. Como não me lembrar do negro Geraldão, que nos tempos da ditadura optou em entregar a própria vida, se preciso fosse, por acreditar que o País podia e devia ser melhor. Pastor Fernando, negro bonachão casado com a Pastora Luzia, meu mentor espiritual na igreja quando eu ainda era um neófito na fé e ele já dizia que eu era pastor por natureza. O tempo deu razão a ele. Já no seminário, tempos difíceis de trabalho e estudo, lá estava ele, o negro Pastor Adilson Umbelino incentivando, encorajando e sendo duro, tudo na hora e na medida certa.
E ainda como não me lembrar de algumas namoradas negras, na verdade a grande maioria delas.
Meu Deus, como não me lembrar da Conceição, minha negra mãe, que cuidou de mim e de meus irmãos como se de fato fossemos filhos dela, e é assim que me sinto até hoje. E que depois de tanto tempo, quando eu precisei, lá estava ela cuidando também de minhas filhas. A única que na época da minha separação, do alto da sua negra sabedoria, teve a coragem de me olhar nos olhos e soltar: “Toma vergonha nesta cara menino”. Devo a ela boa parte do que sou hoje. E como não lembrar do filho dela, meu negro irmão Carlos.
Que orgulho eu tenho de você, meu negro avô Paulo Leite Bittencourt, que deu início a minha história, de quem herdei não só o primeiro nome, mas também alguma coisa em meu DNA que faz com que eu me recuse a entender e aceitar o racismo. Quantas saudades de você assentado naquela cadeira com o encosto virado pra frente na porta de casa todos os dias ao entardecer. Que orgulho eu tenho de você Paulino Leite, que orgulho.
PAULO Taciano Campos - Novembro de 2012.

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